Goma Oficina Plataforma Colaborativa

[arquitetura, pesquisa]

goma oficina entrevista al borde

Em entrevista cedida à Goma Oficina, David Barragán conta um pouco da experiência de trabalho do Al Borde, escritório de arquitetura localizado em Quito, Equador, do qual é responsável juntamente com Pascual Gangotena, Marialuisa Borja e Esteban Benavides.  

A atuação do escritório proporciona reflexão acerca da divisão trabalho manual x trabalho intelectual na prática da arquitetura. Divisão essa que, apesar de ser resultado de um processo de construção histórica e social, ou mesmo justamente por conta disso, é entendida como modus operandi convencional dentro do campo prático e teórico. E parece existir um silêncio pactual acerca do assunto de maneira geral.

De certa maneira, projetos que adquiriram reconhecimento internacional, como a Escola Nova Esperança, conseguem quebrar a ausência de ruído e trazer à tona as contradições inerentes à arquitetura, bem como revelar, de maneira mais contundente, caminhos alternativos de atuação da profissão. Ao apresentar esse projeto, o arquiteto mostra como ele é um forte exemplo de que os conhecimentos técnicos imprescindíveis ao exercício da arquitetura transpassam as barreiras do conhecimento formal e podem ser assimilados e reinterpretados a partir de experiências empíricas e coletivas.

GO Porque Al Borde?

DB […] Não gostamos do estado de conforto, porque o estado do conforto não permite que a cabeça procure novas ideias. Sempre como uma coisa muito controlada, um status quo que… não gostamos. Então pensamos que se trabalhamos al borde [à  margem], se vivemos al borde, poderia ser um estado ótimo para criar novas coisas, para encontrar novas áreas de trabalho… então fizemos uma pequena enquete com os amigos, “o que acham do nome Al Borde Arquitetos?” e as respostas foram “acho que ninguém vai confiar em vocês, porque vocês não tem um nome profissional”. Achamos que isso é bom, porque o nome faz um filtro aos clientes. Nós não queremos trabalhar para todo mundo, não queremos fazer mil prédios em nossa vida. Só queremos fazer os prédios, as casas, as exposições, workshops, classes, que queremos fazer. Então pensamos que Al Borde é bom porque gera um estado de instabilidade.  E o cliente vai experimentar essa instabilidade com a gente. E se o cliente quer dar um passo ao vazio, vai saltar com a gente. Se não quer dar um passo ao vazio, vai com outro arquiteto.

GO Falando sobre essa questão do coletivo, o que é o coletivo pra vocês, o que significa esse termo que tem sido tanto usado e que ninguém consegue defini-lo? Queríamos saber como vocês enxergam esse nome e se vocês se denominam como um coletivo de arquitetos.

DB Eu não gosto dessa palavra “coletivo”. Não gosto porque tem muitas posturas para não reconhecer a prática da arquitetura ou para falar de arquitetos que não fazem arquitetura, que trabalham com coisas mais temporárias… Nós somos um escritório de arquitetura. Somos arquitetos e temos um escritório de arquitetura. Que trabalhamos com outro pessoal, que fazemos colaboração com artistas, designers, com outros arquitetos, sim. Que trabalhamos de maneira colaborativa, sim. Mas somos um escritório de arquitetura.

GO A gente sempre tem essa questão sobre como chegam os projetos… Vocês tem trabalhado muito com comunidades. Queríamos entender como esses projetos chegam até vocês e o que garante a sustentabilidade financeira do grupo.

DB Nunca procuramos clientes. Não tem publicidade para atrair clientes, tampouco um projeto de pesquisa com comunidades para buscar onde intervir. Tudo sempre foi muito orgânico.

Depois entendemos que queríamos trabalhar em uma área muito específica de desenho, queríamos viver desenhando. E para desenhar precisávamos de uma liberdade, de um contato com o cliente muito forte. É por isso não estamos tratando de convencer ninguém de trabalhar com a gente. De cada dez projetos que chegam no escritório, acho que só um ou dois nós trabalhos, porque nós explicamos aos clientes como trabalhamos como é nosso processo. Nós trabalhamos muito devagar, nao podemos fazer um projeto de um dia para o outro. Então nem todos os clientes podem trabalhar com a gente. Trabalhamos como uma metodologia de trabalho que o cliente tem que estar contente e nós também. Se ele está contente com o projeto mas nós não estamos, não fazemos. Fazemos um outro projeto, novo, até que fique ótimo para as duas partes. Gostamos muito de ter essa relação e isso demanda muito tempo, os clientes não querem esperar. Trabalhamos com muitos materiais que têm uma forma de trabalhar muito específica. Não é um produto genérico, algo que vai ver em uma revista, algo que já se está acostumado. Então demanda um processo e contato com o cliente para que ele e nós entendamos como vai ser feita essa matéria final. Então precisamos encontrar uma boa relação de amizade e confiança com o cliente.

Desde 2014 nós fizemos uma intervenção em uma casa do centro histórico, o projeto é “casa em construção”, que é nossa maneira de viver, nossa maneira de ser. É o projeto mais extremos que você pode ver. Fizemos uma mistura entre workshop aberto e academia da construção para alunos e ali começamos a explorar tecnologias de baixo custo com muito pouco orçamento. E isso criou uma estética muito própria do lugar. Então todo cliente que entra, ou se apaixona ou sai correndo, não tem meio termo [risos]. Gostamos muito disso porque podemos ser muito honestos com nossas procuras, com pra onde vai nossa arquitetura. Isso na área tradicional de arquitetura.  

Por exemplo, depois de fazer a primeira escola, Escola Nova Esperança, na praia, o projeto foi publicado na mídia de arquitetura, foi muito mostrado no mundo todo, seguimos enviando o projeto para diversas exposições de educação, de tudo. Muitas ONGs ficaram com essa imagem marcada e começam a ligar pro nosso escritório. O que nós fizemos foi mostrar nosso trabalho na mídia especializada, só isso. Procuramos muito mostrar na mídia de arquitetura porque isso produz para nós uma crítica muito forte, porque estamos muito expostos, todo nosso trabalho está exposto em muitos idiomas, palestras. Todo mundo está constantemente vendo o que estamos fazendo, e isso ajuda muito nosso pensamento, faz com o tempo tempo haja um questionamento sobre o que estamos fazendo, e porquê. “Por que estamos fazendo isso? Por que estamos trabalhando com esse cliente? Faz sentido fazer outra moradia? Como fazemos outra mordia? Agora, tendo feito muitas moradias, temos que pensar que a moradia tem que ser algo a mais.”

Então, agora trabalhamos vários componentes da construção da casa em workshops abertos para desenvolvimento da técnica, para que os estudantes aprendam a fazer muros de terra, ou trabalhar com madeira, fazer tetos de pneu, porque inventamos nossas tecnologias lowtec também.

Então o tempo todo estamos procurando questionar o que fazemos, e por quê. Não sabemos qual é o passo seguinte, não temos uma projeção a futuro. Não tem uma coisa mais coorporativa, “nosso objetivo final é isso”, não. Só pensamos o próximo passo, e é por isso que trabalhamos em muitas áreas, com artistas, em exposições, em projetos temporais, em tudo que queremos, na academia… Sempre procurando entender qual é nossa proposta neste espaço.  

Desenhamos e construímos nossos projetos, então temos honorários do desenho e honorários da construção. E também damos aulas no Equador, e agora somos professores convidados no Peru. Agora temos um Taller Al borde [Ateliê Al borde], uma aula de projetos Al borde, trabalhamos isso como uma marca, digamos assim, para se mover entre as distintas academias… Temos uma aula Al borde na Universidade Tecnológica de Latinoamérica, outra em Quito, e aconteceu o mesmo com o decano da Universidad SEK, ele disse “Quero que meus alunos aprendam a construir, aprendam da matéria, aprendam uma outra maneira de se aproximar da arquitetura”. Aconteceu o mesmo no Peru, temos um workshop lá, na Universidad Ucal, onde sempre construímos.

Esperanza Dos, Al Borde. Foto Sebastian Melo

GO Sobre a questão do trabalho com comunidades, você poderia contar um pouco mais sobre a experiência, principalmente em relação às metodologias? Imaginamos que vocês tenham aprendido muito ao longo desse processo. Se quiser, comente algum caso.

DB Nós temos uma organização muito forte, muito clara e ao mesmo tempo muito flexível. Isso que faz com que sempre podemos caminhar no tempo estruturando e reestruturando tudo que fazemos. Essa metodologia do trabalho e da vida também faz com que sempre estejamos aprendendo algo novo, e sempre incorporando novos conhecimentos e novas ferramentas ao trabalho.

Nesse processo, acontece a Escola Nova Esperança. Esse é, talvez, o projeto mais claro de como trabalhamos participação e como aprendemos e fazer participação. Sabemos que existem muitas metodologia de muitos lados do mundo de como trabalhar participação, tudo muito claro e muito preciso. Mas quando se está em campo, tudo pode mudar: o pessoal pode vir, pode não vir, o projeto pode não ser feito. Tudo é muito mais complexo fora do livro.  

O primeiro projeto o professor liga para Paschoal: “Oi, criei uma escola na praia, um espaço pequeno, falei para a comunidade que você é arquiteto. Podemos fazer um projeto muito mais cômodo, eles estão organizados, eles vão construir o projeto, vocês querem fazer parte do desenho?” Falamos “sim, sim, porque não?”, e fomos para lá. O professor falou que ele tem uma comunidade organizada, então aprendemos que precisamos de comunidades organizados. Depois ele falou “temos um território organizado, e podemos conseguir madeira, bambu, folhas de palha para o teto”. Então entendemos que precisamos trabalhar com recursos locais. E sempre trabalhávamos com recursos locais.

Quando estamos trabalhando uma casa, entendemos junto ao cliente como eles moram, que sonhos tem, como querem morar no futuro, para então plantear como vai ser essa casa. O mesmo acontece com a escola: qual a metodologia de ensino, onde você vai com seus filhos, o que querem promover com essa educação. Era muito natural, os dois processos. O projeto foi mostrado ao professor, ele gostou, explicou um par coisas técnicas e fomos á praia construir. Depois o projeto ficou muito, muito bom, a comunidade ficou feliz, as crianças vão muito contentes às aulas. Dois anos depois…  o primeiro projeto é de 2009. Então, em 2011, o professor fala “precisamos de outro projeto”. Ficamos surpresos. “Mas por quê? Vocês tem uma comunidade de vinte famílias, como precisam de um novo projeto?” “Sim, acontece que as pessoas estão muito contentes, muito organizadas, a escola explodiu… muito bom… e agora entendemos que precisamos de um novo projeto para um espaço comum, onde se possa fazer tudo.

Nesse ano de 2011, começamos a questionar também como eram as nossas aulas, porque trabalhávamos na PUC de Quito uma aula muito mais convencional. Falamos para o diretor da carreira, o decano, que queríamos trabalhar nossa metodologia. Queríamos trabalhar processos de participação. Entendemos que a arquitetura tem a capacidade de mudar muito as condições de uma família, e se pode com uma moradia mudar as condições de uma família, pode mudar muito as condições de uma população. E falamos que era muito importante ter uma equipe de trabalho. Uma antropóloga que trabalhe com a gente, e um engenheiro que entenda de tecnologias alternativas.

Então as primeiras aulas desses processos foram com ela [antropóloga] em nossa aula, com nossos alunos, explicando: como vai ser o contato com as pessoas, o que vamos trabalhar, que problemas eles vão ter, e tudo isso. E depois íamos todos os domingos à favela, para trabalhar com os alunos e a comunidade. Então, quando fizemos o segundo projeto, em Porto Cabuyal, lugar onde está a Escola Nova Esperança, já trabalhávamos com essa antropóloga. Falamos pra ela “Queremos trabalhar de uma forma mais participativa nessa comunidade. Sabemos que eles já conhecem os materiais, a comunidade é comprometida. Podemos fazer um projeto muito fácil no escritório e ir construir”. Mas falamos de entender uma outra maneira de construir e pensar um processo com mais participação. Naquele momento, não pensávamos que o projeto ia crescer mais e mais. Só pensávamos que era nossa responsabilidade criar um vínculo mais forte com essa comunidade que a gente já conhecia.

A gente sempre ouve a mesma pergunta: “como vocês fazem para incluir a comunidade, que a comunidade construa felizes com vocês?” Nós não temos que incluir a ninguém, eles precisam desse projeto, então vão trabalhar no projeto, vão assistir ao workshop, vão à construção, vão se organizar.

Eles não sabiam exatamente o que eles queriam. Isso era muito interessante. Só sabiam que precisavam de um espaço para se reunir, e que esse espaço deveria ter uma capacidade de se transformar muito fácil. Pouco a pouco o projeto começou a se transformar, e se transformou com o sistema tecnológico, com a metodologia. Nós, como arquitetos, tínhamos uma idéia, desenhamos um módulo, que podia se construir como uma sequência. Assim, era possível que eles, quando precisassem de uma ampliação, só copiassem o sistema. Mas isso era uma ideia na nossa cabeça. E de repente eles falaram: “podemos fazer dois tripés mais?”.  Era um sistema de tripés. Falamos “Sim, claro, que sim”. E depois não perguntaram mais, fizeram outra ampliação. Fizeram outro tripé, depois outro. Para nós foi um momento muito lindo, porque sentimos, como arquitetos, que não somos necessários. Que esse sistema de tecnologia que foi feito com materiais e sua capacidade tecnológica manual, somado ao nosso desenho, podia ser replicado muito rápido. Então ficamos muito felizes, e pensamos “aqui, acabou”. Mas em 2013 eles ligaram de novo. E agora queriam fazer: uma igreja, uma casa para professores convidados, uma creche, uma área para turismo comunitário… “não, não, não, calma!”. O que vamos fazer nessa condição? De novo, temos que começar do zero.  

Para entender o que acontecia ali, o professor falou “quero que vocês visitem a praia, porque quero que vocês vejam o que está acontecendo com as novas casas dos pescadores da comunidade”. Quando você constrói com materiais naturais, acontece que casa não é para sempre. Você tem que reconstruir a cada 5 ou 7 anos as casas. Alguns pescadores tinham que fazer suas novas casas, e eles não fizeram a casa normal. A casa normal é elevada do chão, sobre pilotis, as paredes são de tábuas ou bambu, a planta é quadrada ou retangular, e o teto é inclinado, normal. Casa de praia, normal. Eles começaram a experimentar com geometría. Não sabem escrever, nunca foram à escola, não sabem ler. Mas por exemplo a casa de um pescador, a planta é um decágono. Não faz sentido, é um decágono. E ele escolheu um lugar onde tinha a melhor vista… E outro tem uma planta que é um hexágono alargado, todos começaram a experimentar com a forma, com a geometría. Isso para nós foi uma coisa impressionante. O professor falou “vocês estão tendo muita influência aqui, olhem o que está acontecendo”. A gente falou “eh… não é nossa culpa, como isso…?” Mas sim. É uma mistura, misturamos o seu conhecimento com o nosso conhecimento. Aprendemos muito como trabalhar com a comunidade. Eles aprenderam como trabalhar com o conhecimento da arquitetura, da geometria, das estruturas. Eles aprenderam que sua tecnologia não são tecnologias de pobres, seus materiais não são materiais de pobres. Simplesmente são materiais e são tecnologias que podem se transformar. Pode criar a forma que vocês quiserem.

Para nós foi pura magia, então falamos: “Pronto, não podemos mais projetar pra vocês. Se vocês tem esse espírito de criação. Se vocês já estão experimentando nas suas casa, então vocês tem que ser os próximos arquitetos”. Então falamos para o professor “o que aconteceria se criamos uma escola de arquitetura?”, o professor falou “oh, vocês estão loucos, mas podem fazer o que quiserem. Vamos tentar, vamos falar com a comunidade”. O professor falou “os arquitetos falaram que vocês estão experimentando muito, que tem muita vontade de experimentar com arquitetura, com o espaço, com a geometria, então, o que acontece se eles vem pra praia a dão algumas aulas, uma escola de arquitetura com vocês? E vocês projetam e constroem os próximos projetos”.

No final tivemos 14 estudantes, a mais jovem, Rosita, de 14 anos, e o mais velho Rosalito, de 70 anos. Só Rosita sabia ler e escrever, porque ela frequentou a escola, os outros não sabiam. E começamos uma escola de arquitetura lá. Viajávamos uma vez por mês, por três ou quatro dias. Foi a experiência de desenho mais importante pra nós, porque é um contato com a realidade muito forte. Não tem luz elétrica, não tem internet, não tem computador, os alunos não sabem escrever, não sabem ler. Só viram modelos de arquitetura que nós levamos pra lá. Não tem conhecimento da teoria, da história, nada disso. Então foi muito bonito, porque falamos no escritório “o que devemos ensinar lá?”. Eles moram ali e sabem melhor do que ninguém como é seu território. Perfeito, não vamos trabalhar isso. Depois, pra fazer arquitetura, para poder projetar, você tem que entender dos materiais de construção, tem que entender dos sistemas, das tecnologias. Eles sabem, todos ali constroem suas casas. Então era uma oportunidade onde eles já tinham o conhecimento, desde que são crianças.

Então falamos: vamos trabalhar com eles como você começa com uma ideia abstrata e essa ideia se converte num espaço construído. É isso, todas as nossas aulas ali. Depois entendemos que tínhamos um contexto, então falávamos, por exemplo na área das pedras, falávamos da relação de escala, de proporção que você tem que entender se está muito fechado, muito aberto, muitas coisas que você trabalha no espaço.

Depois entendemos também que eles podiam fazer modelos de verdade. Porque quando um aluno, na cidade, na universidade, faz uma maquete, muitas são feitas com corte a laser, cnc, ou são modelos que colam uma base na outra, mas não são modelos construtivos. Eles não tem luxo pra fazer um modelo que não funciona. Todas as maquetes que eles fazem são construídas com as mãos. Todas os modelos que eles faziam eram modelos construtivos, porque a cabeça deles é construtiva. Então eles não podiam fazer modelos estéticos. Os modelos que eles faziam eram muito lindos porque tem proporção, mas não tem escala.

Por exemplo, no terreno, eles não tinham um terreno desenhado, eles só falavam, com a terra, “assim, mais ou menos assim, a montanha assim, aqui vai o projeto”, e começavam aí. Muito bonito, porque depois falavam: “essa é a altura de uma pessoa”. Perfeito, colocamos uma pessoa aí. “Ah, muito pequenino…”, “Bem, vamos fazer a pessoa menorzinha”, perfeito. Então foi um contato com uma realidade muito legal, aprendemos muitas maneiras de trabalhar em um contexto muito diferente. Não é possível aprender isso em um livro de metodologia de participação. Sabemos que existem, sabemos que existem muitos processos, conhecemos metodologias, usamos muitas metodologias que a antropóloga ensinou pra gente, mas todos os processos, vamos aprendendo no caminho. Todos os projetos que fazemos nesse tipo de trabalho são feitos com o que encontramos nas comunidades naquele momento. Tratamos de entender para que eles são bons, e começamos a trabalhar isso com eles.

GO São muitas as diferenças entre um canteiros de obras de uma obra privada e de uma obra comunitária. Com a experiência de vocês com o canteiro de obras da obra comunitária, algo mudou no canteiro de obras de uma obra privada?

DB O canteiro de obras de uma obra privada é muito diferente ao da obra social. Desde o início, nós nos preocupamos muito com a nossa relação com o pedreiros. Isso era muito importante.  Não gostamos da metodologia do trabalho vertical, onde o pedreiro sempre é mal tratado, é despectivo. A obra é um ambiente muito forte do trabalho. Nunca gostamos de trabalhar dessa maneira. Então acho que quando começamos a trabalhar nos processos participativos, e o canteiro de obras de projetos de participação, sempre tínhamos uma relação mais horizontal. Só que na obra tradicional a relação sempre vai ser piramidal. A gente não está construído com os pedreiros a moradia privada. Tratamos bem, buscamos que o salário seja bom, boas condições do trabalho. Buscamos que tudo seja ótimo. Mas em canteiros de obras dos projetos sociais tudo é horizontal, é completamente diferente. Sim, é muito diferente. O que aconteceu é que, para canteiros de obras de projetos privados, começamos a criar espaços de ensino. Usamos a obra privada para fazer workshops, envolvendo alunos, para que conheçam diferentes tecnologias que estamos investigando. Talvez isso seja uma mudança forte, que entendemos que a obra privada também deve ser um espaço de experimentação, não só a obra social.

Nota

Entrevista realizada em março de 2018 na Goma Oficina por Victoria Braga, Lena Império e Maria Cau Levy. Captação de vídeo por Lauro Rocha e Fernando Banzi, montagem e transcrição por Christian Salmeron. Texto de Introdução por Victória Braga e revisão por Lena Império. Agradecimentos especiais a Fernando Lara e Al Borde.