para um começo de conversa – debate no seminário arquitetura para autonomia: ativando territórios educadores
As palavras constroem sentidos e por isso mesmo a linguagem ainda é uma das mais eficientes ferramentas de poder. Sempre me pareceu pertinente estar atenta às artimanhas ocultadas no que parece ser uma inofensiva junção de letras. Por isso, há vezes em que, antes de formular qualquer posicionamento acerca de um determinado tema, me parece sensato buscar elucidações a partir da etimologia daquilo a que dedicarei minha reflexão.
O tema ou nome do Seminário me chamou particular atenção. E então, minha reflexão começou, de fato, com a própria construção do sentido das palavras ali contidas:
“Arquitetura para Autonomia: ativando territórios educadores”.
Educação vem do latim, educatĭo,ōnis (education) “ação de criar, de nutrir; cultura, cultivo”. Autonomia é “a capacidade de governar-se pelos próprios meios”, ou: direito de reger-se segundo leis próprias, do grego, αυτόνομος (autonomos), “de si mesmo”.
Por associação: “criar por si mesma, nutrir a si mesma, cultivar a si mesma”.
Ao que parece nos sugerir, no sentido mais essencial, educação e autonomia relacionam-se diretamente com a capacidade de reconhecer e desenvolver, em si própria, as suas potencialidades.
Faço um parênteses para resgatar um texto que me parece oportuno: “Construir, Habitar, Pensar”, no qual Heidegger ensaia uma reflexão teórica acerca dos conceitos de “habitar” e “construir”, estabelecendo relações a partir da etimologia. Em uma passagem, o autor apresenta a relação intrínseca existente entre as palavras “bauen”(construir), “buan” (habitar) e “bin”(eu sou, nas conjugações ich bin, du bist, eu sou, tu és).
Observar e refletir sobre essas relações se apresenta como um bom começo de conversa, com o intuito de pensar e repensar o campo do construir, do habitar e do ser; da prática da arquitetura ela própria, construção e transformação dos espaços habitados por pessoas.
E podemos finalmente nos perguntar: onde cidade, arquitetura, autonomia e educação se encontram? De que maneira a arquitetura pode construir práticas para autonomia? De que maneira as cidades podem habitar territórios educadores? E de que maneira podemos ser parte desse processo?
Seminário Arquitetura para Autonomia: Ativando Territórios Educadores
Realização: Instituto a Cidade Precisa de Você e Escola Sem Muros
Parceria de Fomento:
Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo – CAU/SP
Crédito das fotos: Leo Otero