piseagrama e goma lançam zine ‘arquitetura e política’ realizado em processo editorial coletivo
A zine Arquitetura e Política, produzida dias antes do segundo turno das eleições presidenciais de 2018, é um manifesto pela urgência de se entender a produção do espaço em sua intrínseca relação com o poder. Prenunciando o destino que o resultado dessa eleição instaurou ao país, sugere uma forma de interpretação do cenário político brasileiro. O livreto acompanha um manifesto escrito pelo grupo, que pontua a relevância do debate proposto:
“Para a contenção da barbárie, faz-se necessário anunciá-la. Enunciá-la. Fazer vê-la. Colocar a nu aquilo que a cultura vela e em tempos sombrios, a mascara e fantasia. E trazer à superfície suas formas comuns. Como pontua Bataille, a arquitetura se expressa um gosto predominante para a autoridade divina ou humana. Talvez seja o caso de voltar-se às vidas que foram excluídas e, todavia, produzem mundos à parte da ordem divina na qual instauramos esta cultura?”
A publicação foi realizada na oficina editorial coletivo: arquitetura e política, uma atividade elaborada pela Goma Oficina (SP) e a revista Piseagrama (BH), para a XV semana viver metrópole – semana de arquitetura organizada pelos estudantes da FAU Mackenzie. A oficina se deu através do levantamento de algumas questões que relacionam arquitetura, política e publicação editorial, como por exemplo, onde se encontram os discursos formativos hoje na arquitetura, para que e para quem publicamos atualmente e o que uma publicação pode trazer de novo para a arquitetura e para a política.
Os participantes foram convidados a selecionar conteúdos ligados a esses temas para entender possíveis linhas editoriais entre eles. Os formatos trazidos foram diversos: textos, notícias, imagens, livros, pesquisas, manifestos, fotografias, entre outros. A seleção de conteúdos mostrou como os mais diversos assuntos podem estar conectados, entendendo que a informação necessita uma leitura crítica. Uma matéria chama atenção para a construção de um mural no Minhocão retratando as artistas Linn da Quebrada e As Bahias, símbolos da luta LGBTQ+, enquanto outra aponta casos de violência e transfobia que mulheres trans sofreram no Arouche, muito próximo ao mural. Tomando a luta de grupos marginalizados como mote editorial, o grupo elegeu três temas para criar uma narrativa crítica para a publicação: intolerância, gestão e apagamentos, relacionando a cidade de São Paulo e seus agentes em diversas esferas.
O formato, também discutido em conjunto, estruturou duas maneiras de inserir esses temas na publicação, uma para os conteúdos “teóricos” e outra para os “recortes” – inseridos como “abas”. Os recortes eram citações de livros, músicas ou poemas mais curtos, pontuais; os teóricos, notícias íntegras, matérias de revistas e trechos de livros. As imagens, retiradas do google e das matérias, foram recortadas em pontos específicos representando os assuntos. A zine resultado desse processo é um mosaico de recortes que apresenta fragmentos da atual conjuntura política e os desdobramentos desses acontecimentos na sociedade.
Diversos escritores, músicos e artistas foram citados, entre eles: Criolo, Georges Bataille, Giselle Beiguelman, Guilherme Wisnik, Maria Rita Kehl, Mc Linn da Quebrada, Sérgio Pena e Walter Benjamin.
A zine não está a venda e está disponível online neste link.
oficineiros
Paula Lobato
Ana David
Christian Salmeron
André Stefanini
Fernando Banzi
participantes
Thais Zanini
Sophia Noronha
Sofia Olival
João Vitor Araújo
Gabrielle Frigotto
Guilherme Carriel
Victor Martins
Laura Vasconcelos
Beatriz Saporito
Felipe dos Anjos
Gisete Reis
sobre piseagrama
PISEAGRAMA é uma plataforma editorial dedicada aos espaços públicos – existentes, urgentes e imaginários – e além da revista semestral e sem fins lucrativos, realiza ações em torno de questões de interesse público como debates, micro-experimentos urbanísticos, oficinas, campanhas e publicação de livros.