taib: uma história do teatro | casa do povo
A exposição TAIB: uma história do teatro apresenta a trajetória singular do Teatro de Arte Israelita Brasileiro (TAIB), importante espaço de produção artística de resistência da cidade de São Paulo e que se encontra atualmente fechado, em ruínas. Lançada em conjunto com um livro de mesmo nome, a exposição faz parte de uma ação maior que tem a intenção de jogar luz a este teatro e ampliar os desejos de reativá-lo. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Casa do Povo, espaço cultural efervescente que resiste há mais de oitenta anos no Bom Retiro e que abriga o teatro em seu subsolo.
O primeiro desejo desse projeto é que o espaço da exposição pudesse traduzir a experiência de estar no TAIB, habitando suas diversas camadas, tempos e personagens. Decidimos chamá-lo de instalação-expográfica. A ação de projeto foi, portanto, operar uma transposição, cenográfica e simbólica, do subsolo (onde o TAIB repousa) ao primeiro andar (onde a mostra é exibida), e encenar ali um pseudo-teatro, em que a dramaturgia é a história do TAIB.
A exposição acontece em dois espaços que se conectam, o Salão – espaço amplo e livre onde acontecem diversas atividades –, e o Acervo – uma biblioteca que guarda as memórias da Casa do Povo, e inclusive diversas obras apresentadas na exposição. A ideia é que o visitante avistasse a instalação pelo Salão, que tem um grande fluxo de pessoas, e fosse convidado a adentrar também o Acervo, percebendo que o conteúdo da mostra fala também sobre aqueles espaços.
Enquanto estrutura, trouxemos um elemento que é tradicional ao espaço do teatro: o urdimento. O sistema de cordas e polias, que é usado para movimentar as varas cênicas que suportam cenários, luzes etc, foi usado na instalação para sustentar um conjunto de cortinas vermelhas que demarca a exposição. Cortinas essas, de variados tons e texturas de vermelho, remontando a diversidade de camadas históricas que o TAIB carrega: do início no teatro iídiche, feito por imigrantes refugiados da Guerra, ao teatro infantil e popular, que lotou plateias durante os anos 70 e 80; do teatro amador, praticado pela comunidade judaica que o fundou, ao teatro de resistência, que colocou em cartaz peças críticas à ditadura militar, com grandes nomes do teatro paulista em palco. Acreditamos que a aparência não uniforme das cortinas complexifica as hipóteses que podem ser criadas a partir desse cenário.
Durante as visitas ao teatro em ruínas, notamos as poltronas originais da platéia, muitas em estado bem deteriorado e algumas em processo de restauração. Decidimos incluí-las na instalação, em seus diversos estados de conservação, como uma platéia temporária e frágil que se volta aos planos acortinados. A pesquisa também nos mostrou que essas poltronas tiveram vários processos de reforma durante sua história, em seus estofados eram trocados como uma forma de apresentar um teatro mais moderno e alcançar maior público. Esse elemento original, portanto, também apresenta diversos tons, que vão do vermelho-alaranjado ao bordô.
Quanto aos expositores de barras de madeira, que suportam as obras, televisores e mobiliários, vale dizer que são feitos de reaproveitamento de outras exposições que realizamos anteriormente, um material que carregamos por anos em nossa oficina. Estas peças, também marcadas pelo tempo, são organizadas em geometrias errantes, que avançam, recuam e se dobram pelo espaço, como fossem atores ou cenários em cena. A disposição das obras nestes painéis reforça uma leitura relacional do conteúdo, que nunca se vê inteiramente paralela ao corpo, e exige, portanto, uma interação do visitante à circundar e descobrir as múltiplas facetas de imagens e documentos da mostra.
ficha técnica
Realização: Goma Oficina
Concepção: Casa do Povo
Curadoria: Casa do Povo, Goma Oficina, Maria Livia Goes, Nina Hotimsky
Direção Criativa: Christian Salmeron, Vitor Pena e Maria Cau Levy (Goma Oficina)
Projeto expográfico: Christian Salmeron, Vitor Pena e Gabriela Toral (Goma Oficina)
Coordenação e produção: Paula Marujo e Lauro Rocha (Goma Oficina)
Pesquisa: Francisco Musatti Braga, Maria Lívia Nobre Goes, Nina Nussenzweig Hotimsky, Roney Cytrynowicz
Identidade visual e sinalização expositiva: Felipe Carnevalli e Paula Lobato, Emir Lucresia (designer assistente)
Projeto de Iluminação: Saullo Andretti e Felipe Stucchi
Produção de elementos cenográficos: Bety Poquechoque Quispe, Jeovanna Rosario Huanca Loza, Soledad Marisol Rodriguez Cruz e Zulema Calizaya Choque (Grupo Flor de Kantuta)
Montagem de áudio e vídeo: Amanda Carvalho
Montagem: Christian Salmeron, Gabriela Toral, Gentil de Morais Previati Júnior, Jeferson do Santos Costa, Lia Ballak, Rogério de Moraes Previati, Vitor Pena
Equipamento audiovisual: Fusion
Iluminação: Eléctrica
Digitalização do acervo: Luiz Casimiro, IAI Digital