viagens ao paraguay
Convidei o amigo arquiteto e professor da Universidade Estadual de Maringá, Eduardo Verri, para escrever um pequeno texto sobre esse ensaio, que é fruto de uma série de viagens ao Paraguai. Eduardo fez seu mestrado analisando alguns projetos da recente produção de nosso vizinho guarani, e nossa amizade surgiu graças a essas descobertas das paisagens, arquiteturas e cidades paraguaias. Abaixo o texto completo. Que venham outras viagens!!
“Algumas impressões sobre o Paraguai, ou sobre olhar para o lado.
Gostaria de começar esse pequeno texto agradecendo ao Lauro pelo convite para escrevê-lo. Como alguém que viveu dos 7 aos 17 em Foz do Iguaçu, as primeiras fotos são para mim mais que familiares, são o quintal de casa. Mas apesar de viver na fronteira, nunca havia me aventurado país adentro. Foi só em 2014, já aos 27, que conheci Assunção, mais ou menos na mesma época das primeiras idas do Lauro, para começar uma pesquisa de mestrado sobre a arquitetura de lá. E o que encontrei por lá me surpreendeu. Por vários motivos.
O primeiro, e talvez para mim o mais óbvio, foram as obras. Conheci logo de cara naquele carnaval de 2014 as abóbodas vazadas e pirâmides invertidas do Solano, a catenária do Ramiro ainda em construção, as elegantes casas do Sergio, a experimentação radical do Javier, só para ficar nos exemplos contidos aqui nas fotos. Me refiro assim aos arquitetos, pelo primeiro nome, porque sempre foi assim que me foram apresentados.
E essa foi a segunda coisa que me chamou a atenção. Cada vez que conhecia uma obra e seu autor, o que eu ouvia era “na verdade você precisa conhecer aquele outro, ele tem uma obra belíssima! Ele sim que é bom!”. E foi assim que, durante dois anos, convivi com essa arquitetura, visitando os canteiros de obra, conversando com seus autores, e aprendendo muito sobre esse vizinho que sempre me foi tão próximo e ao mesmo tempo tão distante.
É impossível descolar essas obras do território onde elas estão contidas, e impossível falar sobre essa arquitetura sem pensar nas relações sociais, econômicas, geográficas e humanas que as cercam.
Esses retratos de Paraguai que o Lauro apresenta me trouxeram incríveis lembranças do breve tempo que eu fiquei por lá investigando. O ar úmido, o calor suportável apenas com o tereré, o céu imenso, o sol denso e as sombras sólidas que as fotos tão bem retratam. Essa natureza potente, e a cidade viva e pulsante. E a gente, orgulhosa de sua história, de sua tradição, de seu lugar no mundo.
As lições que aprendi no Paraguai ainda reverberam na maneira como eu tento entender a arquitetura e nosso lugar como arquitetos na sociedade. Somos educados para olhar para cima, nunca para o lado. Que essas fotografias possam nos fazer rever nossas perspectivas.
Obrigado, amigo Lauro, por essa oportunidade!”
Eduardo Verri, 2018