Goma Oficina Plataforma Colaborativa

[notícias]

kinoglaz mostra de cinema soviético ao ar livre

Como ativação da nossa ocupação Funarte SP e imersão no processo da anti-exposição Vkhutemas: o futuro em construção 1918 – 2018, curadoria de Neide Jallageas e Celso Lima, surgiu a vontade, em conjunto a diretora de fotografia Aline Belfort, em projetarmos filmes soviéticos para compreendermos melhor como eles eram produzidos naquela época.

Conhecemos a Aline no processo da exposição, onde ela captou imagens e processos da goma oficina e outros artistas participantes. Ela, que morou e estudou cinema na Rússia, adorou a ideia de fazemos a mostra, e fez uma curadoria de 4 filmes que representariam a época pós-revolução e a tomada do Stálin no poder. Com apoio da Funarte SP foi possível realizarmos as sessões ao ar livre e sem custo para o público.

Surge então a nossa mostra Kinoglaz, , que vem do nome de uma série de documentários dirigidos pelo diretor Dziga Vertov que, em 1924, queria mostrar a nova realidade soviética com um olhar cinematográfico, podendo ser traduzida como “olhar de cinema” ou “olho cinema”. 

Cronologicamente foram projetados os filmes Greve, 1924, de Sergei Eisenstein; O Homem com a Câmera na Mão, 1929, do diretor Dziga Vertov; Terra, 1930, do diretor Aleksandr Dovzhenko e Rapazes Felizes, 1934, o primeiro musical soviético, do diretor Grigory Aleksandrov. Cada filme tem um universo único, por serem de épocas e diretores diferentes, e com o cenário político da época mudando constantemente.


Cartaz do filme Greve, Anton Lavinsky.

O filme Greve, de Eisenstein, deu início a nossa mostra. Um filme emocionante baseado em uma greve fortemente reprimida ocorrida na Rússia pré-revolucionária, no início do século XX, mostra com um teor político e através de ideias refinadas do cinema em seus primeiros passos experimentais o cotidiano da fábrica, as injustiças cometidas pelos empregadores e fiscais de trabalho, a ação da greve, os dias ociosos fora do trabalho, a formulação da lista de exigências pelos trabalhadores, o “contra-ataque” dos acionistas da fábrica e o massacre aos manifestantes.


Cartaz do filme O Homem com a câmera na mão, Vladímir e Geórgui Stenberg.

O homem com a câmera na mão, de Vertov, foi o segundo filme da mostra. A noite estava fria, e a Funarte nos cedeu a sala Guiomar Novaes, que foi uma ótima solução para um filme tão importante e impactante. O filme é baseado na ideia de observar o curso integral da vida – conectar o que é inseparável: o homem e a máquina. A montagem joga com elementos opostos – nascimento e morte, encontros e despedidas, trabalho e lazer. A trilha sonora é impecável, do Michael Nymann.


Cartaz do filme Terra, Vladímir e Geórgui Stenberg.

Terra, de Dhovzenko, foi o terceiro e mais poético filme da mostra. O filme questiona os ciclos naturais, como a vida e a morte, a violência, o sexo, nas fazendas coletivas, em uma visão idealista de comunismo feita antes de Stálin.  Terra foi visto negativamente por muitos soviéticos por causa de sua exploração da morte e outras questões obscuras que vêm com a revolução, o tornando extremamente interessante, com atuações impecáveis.


Cartaz do filme Rapazes Felizes, Iosif Vasilyevich.

O último filme foi o Rapazes Felizes, de Aleksandrov. O filme é de 1934, um pouco depois da chegada do som no cinema. Isso fez com que a linguagem dos filmes tivessem que se adaptar. Aleksandrov e Eisenstein eram parceiros de há muito e foram juntos para os Estados Unidos para estudar essa tecnologia. Aleksandrov ao chegar lá conheceu os musicais, broadway e além de todo o estudo de mercado e de tecnologias, resolvendo então aplicar esse conceito, que fazia um tremendo sucesso em Hollywood nos filmes soviéticos. Com o filme “Rapazes Felizes” ele pode experimentar essa linguagem, que foi um sucesso absoluto, se tornando um dos diretores mais amados da União Soviética na época. O filme é extremamente divertido, repleto de ironias, um humor único e com uma atuação impecável.

Agradecemos à todos que prestigiaram a nossa mostra-processual, Aline Belfort pela parceria, a Maria Ester, Ricardo, Alexandre e Anderson, da Funarte SP, pelo apoio a esse e outros projetos Chris Salmeron e Victoria Braga, que apoiaram a produção e divulgação do Kinoglaz.