o corpo porvir – reflexões do workshop internacional proyecto 36m2
No último final de semana estivemos presentes no workshop internacional proyecto 36m2. A iniciativa reuniu (virtualmente, claro) arquitetes, professores, estudantes, pesquisadores e entusiastas do mundo inteiro para pensar e debater: afinal como serão as coisas daqui para frente? que visões e propostas temos para um mundo “pós-pandemia”?
Para tentar responder à incerteza — ou ainda criar muitas outras indagações — em meio ao momento histórico que estamos vivendo, foram definidas três escalas ou temas como ponto de partida dos participantes: 01 o corpo, 02 a casa e 03 o bairro.
Participamos como “provocadores” em duas equipes distintas e escolhemos trabalhar com o tema do corpo. Esse primeiro invólucro que delimita fisicamente o espaço primordial — o espaço da mente — e que manifesta antes de tudo por meio de si, a expressão de ser e existir. Como o corpo humano e os tantos corpos que podemos identificar na natureza e no ambiente construído estão sendo afetados pela nova realidade que se impõe, determinada por uma pandemia em escala global?
A seguir apresentamos algumas das reflexões apresentadas durante o workshop. As especulações das duas equipes divergem e colocam em perspectiva duas das possíveis visões de um futuro que se contrói no agora.
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Equipe 1 – Victoria Braga (Goma Oficina), Gabriela Arrieta (México), Maria Isabel Ayala (Paraguai) e Raquel Carvalho (Brasil)
Quais são os corpos que primeiro se veem obrigados à adaptação para que possam permanecer, mesmo em contexto tão adverso?
Para nossa equipe que contou com três mulheres estudantes de arquitetura do México, Paraguai e Brasil, pareceu necessário um olhar crítico sobre a situação dos corpos que não tem condição de isolar-se nesse momento ou em qualquer momento: as pessoas em situação de rua estão 365/24/7 expostos no limite a esse espaço que é do comum, o espaço público.
A iminência da desigualdade social — ainda brutal e escancarada nesses 3 países — encontra no contexto atual um fator de maior deflagração: a crise sanitária do covid-19 agravou de imediato a fome, a falta de acesso a itens básicos de higiene, a renda diária necessária para a sobrevivência de milhões de pessoas em todo o mundo.
Não seria difícil imaginar um cenário futuro bastante distópico: o espaço público perdendo qualquer função de ser, a individualização radical (dos corpos, das casas) imperando como modus operandi e as injustiças sociais tornando-se ainda mais acirradas.
Mas ao contrário do que o momento atual poderia sugerir à imaginação, diversas iniciativas de solidariedade surgiram ou ganharam mais força do que nunca nos últimos meses, a partir da articulação de ações em redes de cooperação. Esse impulso nas iniciativas de cidadania auto-organizadas — que incluso, questionam modelos de organização verticais — , apesar de não representarem ainda uma coesão política suficiente para garantir a transformação estrutural do sistema produtivo e da vida em sociedade, parece construir as bases necessárias para um futuro pós pandêmico de possíveis UTOPIAS do comum.
O corpo que encontra no outro — na alteridade — a sua força de reflexão e realização: parece ser esse o corpo que podemos vir a habitar.
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Equipe 2 – Lauro Rocha (Goma Oficina), Emma de Vido (Argentina) e Maria Teresa Larriva (Espanha)
Na nossa outra que equipe que contou com uma arquiteta equatoriana que vive na Espanha, uma arquiteta da cidade de Formosa, na Argentina e um arquiteto do Brasil que vive em São Paulo, surgiram muitas reflexões sobre o corpo que habitamos fisicamente e o corpo que passamos a habitar cada vez mais virtualmente. Como esses corpos vão habitar o mundo pós quarentena?
Esse corpo virtual que durante a pandemia tem sido fonte para levantamento de muitos dos dados sobre a doença, visto que grande parte do monitoramento que tem gerado os dados nessa pandemia são produzidos através de informações provenientes dos celulares e computadores. Além de que muitos dos espaços de convívio, trabalho e lazer passaram ao “status” da virtualidade, e festas, reuniões e aulas estão ocorrendo nesse espaço virtual.
Esse corpo virtual que não ocupa um espaço físico e não cruza fronteiras, se contrapôs ao corpo físico que teve que deixar de habitar os espaços públicos, e viu o surgimento de novas fronteiras, a primeira delas sendo a porta das próprias casas.
Em um mundo pós quarentena talvez passemos a habitar esses corpos de maneira desigual, com menos uso dos espaços públicos, menos viagens e vivendo muito mais esse corpo e essa pele virtuais.
A experiência de participar desse workshop foi muito interessante pela possibilidade de trocar experiências e impressões sobre esse momento e nos pareceu mais importante pelas reflexões estabelecidas e pela metodologia estabelecida. A possibilidade de participar desse grande espaço virtual com pessoas de diversas partes do mundo, nos permitiu uma troca simultânea de conhecimento e reflexões.
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